O Estudo dos Nossos Filhos Enquanto Prioridade

No artigo anterior começamos a conversar sobre antigas prioridades comumente impostas a nós pelo que chamamos de senso comum:

  • Primeiro: a “casa própria”;
  • Segundo: garantia de bons estudos para os filhos;
  • E terceiro: garantia de bons recursos de saúde para a família.

Pois é, a segunda prioridade que a maioria das pessoas que vivem de salário a salário tem em mente é a obrigação de prover bons estudos para seus filhos.

Não pretendo de forma alguma dizer ao leitor o que é certo ou errado, apenas quero provocar pontos e questionamentos que devemos levar em conta antes de priorizarmos algo em tão alta escala, pois se deixarmos as coisas correrem soltas o resultado final pode ser muito diferente do esperado.

Estudo Formal vs Ser Bem Sucedido

A muito tempo se sabe que o final do Ensino Médio deixou de ser um bom alicerce para o indivíduo adentrar o mercado de trabalho. Cada vez menos encontramos boas colocações com exigência apenas de conclusão dos colegiais. Simples assim, o aluno que conclui o terceiro colegial não tem bagagem, nem adquiriu pelos bancos escolares capacitação suficiente para garantir-lhe um trabalho digno e de boa remuneração.

Desta forma aumenta a pressão para que se escolha um curso de Nível Superior, com a premissa de que após a formatura o recém graduado tenha maiores chances de encontrar uma boa oportunidade de trabalho ou um emprego estável. Acontece que da mesma forma que no passado o Ensino Médio acabou por perder muito este valor, agora estamos vendo inúmeras carreiras e muitos novos profissionais que simplesmente não encontram as oportunidades sonhadas de modo natural ou automático.

Trata-se de uma armadilha. Priorizamos nossas finanças pessoais, e assim grande parte de nosso orçamento, para provermos aos nossos filhos um bom ensino médio (muitas vezes particular e caro), na intenção de aumentarmos as chances deles de cursarem uma boa faculdade (que nem sempre é publica, barata ou gratuita). Comemoramos como uma verdadeira vitória a formatura, ficando a sensação de missão cumprida para os pais. Só que cada vez é mais frequente a realidade de que aquele suado diploma, na verdade, de pouco serviu! O filho pode terminar frustrado, desempregado ou muitas vezes desempenhando algo muito diferente daquilo para o que inicialmente estudou e se formou!

Já não é incomum certas colocações estarem exigindo nível de pós-graduação como pré-requisito mínimo. E assim vemos filhos que depois de anos e anos nas escolas, chegam a vida adulta e ainda estão estudando e sendo sustentados pelos pais.

Certamente vocês têm em mente alguns casos em que os filhos já tem seus próprios filhos e ainda não encontraram meios próprios de se garantirem financeiramente; quando acaba para os avós a tarefa de arcar com os custos escolares dos netos. É uma armadilha ou não é?!?!

Pode não ter dado certo para meu filho, mas quem sabe vai dar certo para meu neto…

É óbvio que estas situações hipotéticas não são uma verdade absoluta, apenas quero alertar para uma situação que vem se tornando mais e mais comum a cada ano que passa.

Minha intenção é enfatizar que priorizar o sustento dos estudos dos filhos pode não ser uma boa estratégia, especialmente se seguida cegamente, sem estarmos atentos para as possibilidades adversas; e ainda mais se isso possa vir a ser um comprometimento de sua própria saúde financeira na velhice. Imagine-se idoso, sem poder se aposentar por completo ou pelo menos desacelerar em suas atividades, pois precisa ganhar o sustento para sua casa, e ainda ter de arcar com parte do orçamento da casa de seus filhos e com o estudo dos seus netos!

Habilidades Extracurriculares vs Ser Bem Sucedido

Existem as habilidades naturais que se referem a talentos ou aptidões inatas que uma pessoa possui desde o nascimento. Essas habilidades são geralmente consideradas como traços inerentes ou predisposições que podem facilitar o desenvolvimento de determinadas atividades ou competências. Alguns exemplos de habilidades naturais podem ser habilidades artísticas, habilidades esportivas, habilidades musicais, habilidades matemáticas, entre outras.

Por outro lado, temos também as habilidades pessoais que referem-se a conjuntos de habilidades que uma pessoa desenvolve ao longo da vida por meio de experiências, treinamento, educação e esforço pessoal. Essas habilidades são adquiridas por meio do aprendizado e da prática. Exemplos de habilidades pessoais incluem pensamento crítico, resolução de problemas, habilidades de comunicação, liderança, trabalho em equipe, adaptabilidade, criatividade, autodisciplina, inteligência emocional, entre outras.

Para que nossos filhos cheguem a vida adulta e obtenham sucesso de maneira mais fácil é necessário que ao longo de sua educação e crescimento estejamos atentos para estimularmos ao máximo tanto a descoberta de suas habilidades naturais, como também para incentivar o aprimoramento das habilidades pessoais.

Estar atento a estas questões, doar nosso tempo e dar exemplos positivos sobre cada uma destas virtudes sempre que possível, acompanhando o desenvolvimento acadêmico escolar concomitantemente, vai trazer melhores resultados. É necessário muito diálogo, carinho e dedicação!

Os pais e a escola devem formar e informar os filhos; porém em proporções muito diferentes. É óbvio que a maior parte da formação fica para os pais e para a família, enquanto a informação acadêmica para o ensino tradicional.

Outra coisa importante para se ter em mente é a necessidade de despertarmos nas gerações vindouras o gosto pelo trabalho. Em ouros países e culturas é comum que jovens trabalhem concomitantemente com os estudos. Isso trás muitas vantagens e amadurecimento pessoal, como por exemplo o senso de responsabilidade, o ganho pelo mérito, habilidades como atendimento ao público e vendas. Sem falar na oportunidade de se aprender sobre finanças pessoais logo cedo!

É certo que no Brasil, as oportunidades de trabalho para os jovens estudantes são poucas; além do que podem acabar por prejudicar o resultado em uma disputa vestibular acirrada. Por isso os pais devem estar atentos ao timing e as oportunidades que apareçam.

Caso sua própria ocupação ou negócio permita; leve seus filhos junto com você e façam com que trabalhem e aprendam novas habilidades. Deixe que eles o vejam trabalhar, negociar, tratar com clientes, e coisas do tipo ao ponto que possam ser confiados para algumas tarefas. Transmita confiança e cobre responsabilidades, de forma tranquila, mas sempre progressiva.

Mesmo que sua ocupação ou negócio não permita isso, sempre há a oportunidade de ensinar o gosto pelo trabalho com as tarefas cotidianos do lar. Cobre que tenham responsabilidade e “pague-os” pela meritocracia; sempre dialogando e passando conselhos construtivos. O filho que cumpre com as tarefas, faz bem feito e de bom grado, deve ser recompensado por isso de forma concreta e carinhosa ao mesmo tempo.

Ninguém se arrepende de estar ao lado dos filhos, dando a eles atenção e ensinando pelo exemplo aquilo que temos como nossos melhores valores!

Um Toque Pessoal: Regra da Tia Clarice

Minha querida tia Clarice era sabida e pragmática. Minha tia por parte de mãe, e com certeza a tia mais querida e com quem mais tive contato. Todas as férias eram em Votuporanga, na casa dela, para desfrutar da cidade pequena de interior e da companhia dos primos. Acontece que a tia Clarice acabou por criar cinco filhos, dois próprios e três adotivos. Aquelas coisas que só o destino explica, pois um tio meu, irmão dela e de minha mãe, faleceu com sua esposa em um trágico acidente de carro, deixando esses três primos órfãos. Para complicar ainda mais as coisas, a tia Clarice ficou viúva quatro anos após a adoção dos meninos. Resultado: uma mulher nova, nos anos 70, viúva e com cinco filhos para criar sozinha!

Imaginem uma mulher forte e resolvida, pois bem essa era minha tia. Deu conta de segurar esta onda e criou esses filhos, vendo todos eles se formarem. Trabalhou fora de casa como professora até se aposentar. Uma ótima negociante, ninguém passava a perna naquela mulher. Amorosa e alegre, brava e rígida, protetora e torcedora, tudo quase sempre na dose certa!

Pois bem, dentre inúmeras coisas que eu pude aprender com ela, tem uma “regrinha” que ela seguia que se encaixa bem aqui neste post. A regra da tia Clarice para os meninos dela era a seguinte: “Diploma na mão, pé na bunda!”.

Isso mesmo, os meus primos cresceram sabendo que o compromisso financeiro que sua mãe teria com eles se encerrava assim que se graduassem na faculdade escolhida, e pegassem o respectivo canudo. Parece cruel e inexequível nos dias atuais, mas não é, e eu explico por que. Seguindo a regra e sabendo da pessoa que a minha tia era, eles acreditaram que ela realmente faria aquilo e fecharia as torneiras dos auxílios e patrocínios. Desta maneira se dedicaram aos cursos escolhidos e logo que se formaram não exitaram em enfrentar o mercado de trabalho. Tipo coruja que joga o filhote do ninho para que aprenda a voar.

Mais uma vez, minha opinião só serve de recurso para fazer o leitor pensar e neste caso tem o intuito de contrapor a tendência atual que vejo na minha família e na família de inúmeros conhecidos de não forçarem os adultos jovens a se emanciparem. É responsabilidade dos pais este último desmame, não vale depois colocar a culpa toda nos filhos!

Meu filho mais velho já passou pelo crivo da Regra da Tia Clarice e deu certo. Bom para ele e questão de grande orgulho para nós vê-lo seguro e dono das rédeas de sua própria vida.

Resumo Final da Ópera

Apesar de ser de grande auxílio para o sucesso do indivíduo, uma formação de nível superior não é garantia de nada.

Educação vai muito além de prover escola para os filhos.

Desenvolver as habilidades naturais, treinar habilidades pessoais extracurriculares, ter um bom nível de inteligência emocional, além de aprender o gosto para o trabalho são o alicerce para que se construa uma vida futura próspera e feliz E os pais são os grandes responsáveis para que isso aconteça na vidados filhos.

Capacidade acadêmica também é uma habilidade. Caso eu filho não a tenha, não goste ou encontre limitações neste campo, muito provavelmente este não é o melhor caminho a ser seguido.

Os filhos têm de saber que a vida adulta vai chegar e que eles terão de navegar sozinhos em algum momento. Se não for a Regra da Tia Clarice, que você consiga passar isso para eles de alguma outra forma.

Os custos com a formação educacional dos filhos deve estar equilibrada com o seu orçamento e co sua saúde financeira. Muito cuidado com as armadilhas!

Mãos a obra e bora pensar e poupar! E até meu próximo artigo!

2 comentários em “O Estudo dos Nossos Filhos Enquanto Prioridade”

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