Casa Própria?

Quando comecei minha vida profissional a resposta a esta pergunta era praticamente um jargão da classe proletariada:

  • Primeiro: a “casa própria”;
  • Segundo: garantia de bons estudos para os filhos; e
  • E terceiro: garantia de bons recursos de saúde para a família.

Isso era tão arraigado em nós naquela época, que como comentei no artigo anterior, minha decisão de partir primeiro para os imóveis relacionados as profissões minha e de minha esposa não foi algo trivial.

Com certeza foi uma estratégia que deu muito certo, mas fruto de uma mente poupadora e não necessariamente a decisão mais lógica do ponto de vista econômico de investimento.

Se começar construindo o consultório ou um imóvel para uma pequena escola de Inglês fosse a maneira ideal de se fazer as coisas, aquele monte de salgaderias e lojinhas de bijuteria da rua do centro das nossas cidades seriam imóveis particulares dos donos dos respectivos negócios. E não é assim, pois como podemos deduzir, muitos dos imóveis são alugados e o comerciante mantem-se ali com seu trabalho e pagando o aluguel. Vejam que o que deu certo para mim não se aplica genericamente a tudo e a todos; muito pelo contrário, o modo como eu fiz é uma minoria perto do que se vê no conjunto todo.

Nossa casa própria só veio muitos anos depois, mas veio, pois tínhamos aquela coisa incrustada na mente que era um dos objetivos prioritários para se alcançar.

Mas hoje em dia, ainda é assim? Ainda trata-se de uma verdade inquestionável a moradia ser um imóvel próprio?

Mesmo que para muitos a resposta parece ainda ser a mesma; para uma crescente gama de pessoas o argumento financeiro de que possuir a casa própria possa não ser uma realização economicamente tão acertada assim vem ganhando muita força.

Pessoas que necessitam capital de giro elevado em seus negócios, sempre fazem a conta que os milhares de reais investidos no imóvel, estariam na verdade empatados, e dariam mais lucro se reaplicados na própria atividade como aporte. Por exemplo, aplicar o montante de um imóvel em gado, fazer esse capital girar, pode facilmente pagar o aluguel e ainda fazer sobrar algum dinheiro em forma de lucro líquido, para quem trabalha no ramo.

Para outros a residência física fixa torna-se uma dificuldade ou uma amarra. Porque ficar preso a um mesmo lugar enquanto se pode alugar aqui ou acolá conforme as necessidades ou a vontade! É o caso daqueles que constantemente estão mudando o local de trabalho; ou mesmo os que já estão aposentados e não querem criar raízes, preferindo sempre novo ares.

É necessário ainda fazer as contas quando as opções se estreitarem a pagar o aluguel ou a pagar um financiamento para a compra do imóvel próprio. Uma vez decidido que o local é o adequado, me parece muito sensato contrair uma dívida, mesmo que com uma parcela um pouco mais elevada, desde que dentro de um orçamento viável; mas saber estar se pagando por algo seu e a cada mês estar mais próximo de se livrar do compromisso eterno do aluguel. Esta forma de agir requer que se faça o devido planejamento e que se tenha a perseverança de poupar aquela quantia todos os meses para não deixar a dívida te engolir com os juros.

Dica importante: SOMENTE compre sem ter o dinheiro aquilo que você REALMENTE NECESSITA!

Para encerrarmos esta questão não posso deixar de abordar uma última vertente. Muitos gurus e influenciadores de finanças pessoais irão dizer que o valor do imóvel aplicado nisso ou naquilo, conforme suas mirabolantes sugestões, teriam resultados suficientes para pagar o aluguel e ainda vencer a inflação, não delapidando o capital. Com os outros argumentos posso até concordar, mas com este último aqui fica difícil. A nossa “casa” é muito mais que uma conta financeira ou um investimento. Possuir a casa própria é uma questão de segurança, de conforto, de realização de um sonho. Penso que há espaço e tempo para os dois: para as finanças pessoais e para se conquistar o porto seguro! Acho perigoso e arriscado despriorizar a esse ponto a “casa própria”, pensando-se apenas em manter um maior capital investido.

Para aqueles que lutaram e conseguiram comprar e pagar totalmente pelo imóvel em que moram; certamente fica um delicioso gosto de vitória e realização. Neste ponto o orçamento fica mais frouxo, pois não se tem mais o compromisso com o aluguel ou com o financiamento. E assim muitos aproveitam as sobras e a coragem do momento para assumirem planos maiores de longo prazo. Claro! Estes aqui já se habituaram a poupar e já conquistaram algo de grande valor; e assim estão mais propensos a darem outros passos em direção a Independência Financeira!

De qualquer modo o conselho é que se trace uma estratégia que seja coerente para você a cada momento de sua vida e de sua família; e não levar em conta a “casa própria” como uma prioridade apenas por força de modismos sociais de época! Pense com carinho, tenha esse quesito em mente, e defina um grau de prioridade a ele conforme uma decisão racional e acertada para você!

Lembre-se de que ter um plano, mesmo que questionável, é sempre muito melhor do que não ter plano algum! Mãos a obra e bora pensar e poupar!

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